Filhos, sogra e PMs: PF investiga familiares e aliados de governador do TO por obstrução à Justiça
Operação Nêmesis aponta que grupo teria recebido informações sigilosas sobre investigação de desvio de cestas básicas
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (12) a Operação Nêmesis para investigar o suposto envolvimento de familiares e aliados do governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), em ações para atrapalhar as investigações sobre desvio de recursos públicos durante a pandemia. Ao todo, 18 pessoas foram alvos dos 24 mandados de busca e apreensão cumpridos em Palmas e Santa Tereza do Tocantins.
As investigações apontam que o grupo teria recebido informações sigilosas sobre a Operação Fames-19, realizada em 3 de setembro, que investiga desvios de recursos públicos e emendas parlamentares utilizados para compra de cestas básicas durante a Covid-19. Os mandados foram expedidos pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Mauro Campbell.
Fuga às pressas e cofre vazio
Conforme a PF, Wanderlei Barbosa teria recebido informações sobre a Fames-19 na véspera do cumprimento dos mandados. O governador afastado saiu de casa às pressas, deixando um cofre aberto e vazio, comida sobre a mesa, uma televisão ligada e um celular que, segundo a polícia, foi resetado.
A primeira-dama Karynne Sotero também teria se beneficiado das informações e deixado a residência junto com o governador e a filha. Na Fames-19, Karynne foi apontada como integrante do núcleo de agentes políticos do esquema de desvio de recursos públicos.
Rede de alertas e transporte de provas
O ex-secretário de Parcerias e Investimentos Thomas Gonçalves é investigado por supostamente alertar o governador sobre a operação horas antes da PF cumprir os mandados. Imagens de segurança mostram Thomas visitando a casa do casal na noite de 2 de setembro, pouco antes da fuga.
Agentes da PF identificaram que documentos e materiais de interesse da investigação foram transportados usando veículos oficiais. A casa da sogra de Wanderlei, Joana, teria sido usada para armazenar malas, caixas e bolsas com possíveis provas do caso.
Notas de esclarecimento
A assessoria de Wanderlei Barbosa afirmou que o governador "recebeu com estranheza mais uma operação" enquanto aguarda julgamento de recurso no STF, mas reiterou "disponibilidade para colaborar com as investigações". Karynne Sotero negou as acusações e lamentou a "tentativa de intimidação contra seus familiares".
Thomas Gonçalves, através de sua defesa, afirmou que "nunca trabalhou para causar qualquer embaraço às investigações" e que sua atuação se deu apenas como secretário de Estado. Os filhos do governador, Leo Barbosa e Rérison Castro, também emitiram notas negando participação em obstrução à Justiça.
Contexto das investigações
Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero foram afastados em 3 de setembro de 2025 por 180 dias pelo STJ. Eles são investigados por supostos desvios de recursos públicos realizados em 2020 e 2021, durante o estado de emergência em saúde pública da Covid-19. Na época, Wanderlei era vice-governador e responsável pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social.
A Operação Fames-19 investiga contratos do Instituto para o Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (Idegesesc) - posteriormente renomeado para Idess - que teria falsificado a entrega de cestas básicas. Karynne Sotero foi presidente do Instituto e, segundo as investigações, mantinha as chaves da entidade mesmo após deixar o cargo.
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